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"Garçon Stupide" (2004) foi o primeiro longa do cineasta, que estudou literatura na Universidade de Lausanne antes de iniciar carreira no cinema. Após sua estreia, ele dirigiu "Another Man" (2008) e "Low Cost" (2010), ambos selecionados para o Festival de Locarno. Lionel Baier co-fundou a Bande à part Films, em 2009.
"La Vanité" é seu filme mais recente e foi exibido na ACID no Festival de Cannes. A trama mostra um arquiteto aposentado com uma doença incurável que vai para a Suíça para recorrer ao suicídio assistido. Segundo a Variety, o filme de Baier retrata "o lado mais leve da eutanásia - se pode dizer que isso existe - e explora com mais graça e bom humor do que se poderia esperar."
A seguir, confira uma entrevista com o cineasta Lionel Baier, onde ele revela a inspiração por trás de "La Vanité", seu amor pelas paisagens suíças e sobre sua percepção da realidade no cinema.
Em "La Vanité", você aborda o delicado tema do suicídio assistido com humor e sensualidade. De onde surgiu esta ideia?
LB: Primeiro de tudo é por causa de que o suicídio assistido é um assunto atual que afeta vários países da União Europeia e é algo que os suíços aprovaram rapidamente. Eu tenho a impressão que isso faz sentido para uma geração nascida logo após a guerra, uma geração que viu a chegada da pílula e do aborto e que sempre foi capaz de escolher. É normal para esta geração ter uma palavra a dizer para tudo até o fim. Os suíços trabalharam rápido para passar a legislação neste assunto pois está no DNA deles,
com a democracia, para tratar de questões sociais a nível político. Divirto-me que na Suíça as coisas são tão organizadas, que em um país onde tudo tem seu lugar, o assunto da morte também foi regulamentado. Meu ponto de partida foi uma história que alguém me contou, sobre um garoto que se prostituía para pagar seus estudos e uma noite, em um hotel, no quarto ao lado, estava um homem e uma mulher que fariam o suicídio assistido. Isso mexeu comigo, a questão de que você pode ser a parede divisória de alguém que decidiu organizar sua morte e, como é típico na Suíça, decidiu fazer de uma forma muito metódica.
Em vários de seus filmes, você recupera a paisagem suíça, dando a ela uma dimensão quase mágica e surreal sem qualquer clichê. Isso é intencional?
LB: A Suíça é como uma ilha no meio da Europa, é uma espécie de cartão postal vivo. Eu queria que o filme, que foi filmado em estúdio, tivesse esta sensação de uma caixa de chocolate. É o cenário perfeito. Eu sinto que estou vivendo em um enorme set de filmagem, como se as cidades como Lausanne, Geneva e Zurique são apenas sets. E seus habitantes são figurantes. Meu filme é um pouco como um conto de fadas e a Suíça é praticamente um país de conto de fadas onde tudo é perfeito, tudo tem seu lugar.
Em seus filmes você demonstra um talento muito pessoal para retratar o que é normalmente citado como "vida real". Qual é sua relação com a "vida real"?
LB: Eu não acredito na vida real no cinema, de modo algum. Cinema não tem nada a ver com a realidade e penso que, no fundo, é simplesmente para produzir algo que é nem mais nem menos real do que a vida real. Por outro lado, o cinema opera com um código de movimento humano que é um pouco diferente do que vivemos na vida real e algumas vezes este código, com este certo tipo de artificialidade, nos ajuda a melhor entender o mundo que nos cerca. Eu acredito que para ser bem sincero em um filme, sobre as
emoções e objetivos dos personagens, você não deve hesitar em entrar em uma irrealidade bastante ampla, pois, surpreendentemente, essa é a melhor maneira de compreender a realidade. Eu acho que todas as formas artísticas veem o mundo através de um filtro de irrealidade. Em meus filmes, existem muitos elementos autobiográficos, mas, como todas pessoas modestas, eu tendo a dizer que muitas coisas que podem parecer muito pessoais, mas, na verdade, são para me ajudar a me proteger e me
esconder melhor, e nunca mostrar que eu sou realmente. Existem também muitos elementos da realidade que eu me sinto muito próximo. A relação com a morte é, por exemplo, algo que me interessa, pois é completamente irreal. Representa a forma mais absoluta do desconhecido.
Em "La Vanité", existe um personagem que diz: "Eu não penso que exista algo de natural na morte", e eu concordo.
Entrevista realizada por Muriel Del Don, Cineuropa, em 13 de Julho de 2015.
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