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"118 Dias” (Rosewater) é emocionante e inteligente. O filme marca a estreia de Jon Stewart na direção, que também escreveu o roteiro, baseado no livro de Maziar Bahari, “Then They Came For Me.” |
É importante explicar qual é a conexão entre a história de
Bahari e o programa "The Daily Show", comandado por Stewart. Tudo é
esclarecido no início de "118 Dias", quando Bahari estava cobrindo a
eleição no Irã. Ele foi entrevistado por um dos colegas de Jon Stewart,
que fingiu ser um espião para ilustrar um segmento de sátira. Mais tarde, na
prisão, Bahari precisou explicar ao seu interrogador que tudo isso não passou
de uma piada do "The Daily Show", e não uma notícia.
No filme, nenhuma menção é feita ao "The Daily
Show", mas Jon Stewart comentou que sente-se parcialmente responsável pela
prisão de Maziar Bahari, e que “118 Dias” foi realizado na tentativa de reparar
este equívoco. Stewart realmente prestou uma bela homenagem a Bahari, ele soube
aproveitar o potencial da história e entregou um filme no mínimo emocionante.
Nas primeiras cenas, o espectador participa do clima de pré-eleição, onde Bahari acompanha
estudantes que apoiam Mousavi, mas seu verdadeiro companheiro é uma câmera
digital. Nada passa despercebido pelas lentes do jornalista, os protestos e a
violência fazem parte de sua cobertura. Assim como Maziar Bahari, Stewart também luta para
encontrar seu caminho, mas o filme começa a ganhar forma
uma vez que Bahari é capturado.
É na prisão que Jon Stewart entrega
o seu melhor trabalho, especialmente nas cenas entre Bahari e Javadi.
O diretor também preencheu lacunas sobre a vida de Bahari, incluindo a gravidez
de sua esposa e as lembranças do pai e da irmã que faleceram. Acredito que
faltou um pouco de mistério e tranquilidade para posicionar a história, pois em
vários momentos, os diálogos não parecem espontâneos.

Gael García Bernal é excepcional na pele de Maziar Bahari. O
seu talento é inquestionável, mas preciso dizer que, à primeira vista, ele não
possui o perfil de um iraniano. Porém sua escalação é justificada com uma
atuação delicada e bem humorada. Bernal conquistou a simpatia do espectador e
viveu seus melhores momentos ao lado de Kim Bodnia, o interrogador mais conhecido
pelo perfume de água de rosas.
Um
dos grandes acertos de Stewart é sua capacidade de recorrer ao humor em
momentos de escuridão. Engana-se quem pensa que Javadi é um carrasco, não estou
defendendo as atitudes do personagem, mas ele é um burocrata que vive em um
sistema corrompido. Com altos e baixos, ninguém pode acusar “118 Dias” por
falta de sinceridade.
Mesmo que Stewart ainda não descobriu sua assinatura,
acredito que ele possui um futuro promissor no cinema. Talvez “118 Dias” é o
mínimo que Jon Stewart poderia fazer em homenagem a Bahari. Como mensagem
principal, este diretor de primeira viagem sugere que um governo incapaz de
reconhecer o humor, também é capaz das maiores tiranias.
Sua opinião é muito importante!